Com aceitação
E se certos acontecimentos... já tem hora marcada?
“Hoje fazem 3 anos da passagem do pai, carol.”
Acordei com essa mensagem.
Eu já sabia, mas minha mãe fez questão de lembrar.
Logo hoje. Terça-feira, dia 20/02.
O dia que eu escolhi para escrever essa newsletter e expressar, sem filtros, sobre o que eu sinto: do fundo do meu coração.
Faz tempo que eu não paro pra sentir sobre isso, do fundo do meu coração. Porque ainda dói.
Eu já aceitei a morte como parte da vida, de verdade.
Mas toda vez que eu paro pra lembrar que ele não está mais aqui, eu sinto um aperto. Na maior parte do tempo eu não penso. Mas quando penso, vem uma mistura de saudade, nostalgia, gratidão e incredulidade. Uau - isso aconteceu mesmo.
Meu pai era o meu melhor amigo. Ele estava sempre disposto a me ajudar, principalmente quando eu me sentia confusa de que caminho seguir (ou seja, muitas vezes). Ele era objetivo, pragmático, simples, querido, eficiente e inteligente.
Desde criança até o terceiro ano do segundo grau, ele me levou e me buscou da escola todo o santo dia.
PAIEEE não to entendendo isso! Sempre que precisava, ele sentava do meu lado e me ajudava a entender. Na minha infância, na minha adolescência (haja paciência) e até os últimos meses de sua vida. As vezes eu abro as nossas conversas no whatsapp e me emociono com as mensagens que ele me enviava com pesquisas e respostas pra tentar me ajudar com qualquer dúvida que eu tinha ou qualquer coisa que eu precisava, mesmo da cama do hospital.
Ele sempre teve dificuldade de expressar suas emoções. Uma parte de mim queria que ele expressasse mais o que ele sentia. Mas hoje, estudando sobre o significado do Sagrado Masculino: aquele que provê, protege, guia e lidera com bondade e sabedoria, sempre honrando a sua palavra - eu só agradeço pelo pai que tive.
Professor de engenharia ambiental na universidade, cientista e pesquisador. Atrevo a dizer - melhor que chat GPT. Sempre encontrava as melhores respostas, opções e soluções para minhas indecisões.
O seu propósito era ajudar a limpar as águas do planeta.
E ele foi ter câncer justamente… no sangue.
Nosso sangue = nossas águas = nossas emoções.
Julho de 2017. Eu estava em um café no Brooklyn, estudando para o meu mestrado. Faltavam alguns dias para o meu aniversário de 27 anos quando recebi a notícia que ele estava com leucemia. Foi difícil entender. Foi mais difícil ainda aceitar. O meu mundo desabou. Larguei meus projetos e sonhos em Nova Iorque e voltei para o Brasil para viver a fase mais triste e transformadora da minha vida.
O que eu não sabia era que o meu verdadeiro mestrado sobre a vida estava só começando. A medida que eu estudava sobre formas de ajudar o meu pai a se curar, eu fui me curando.
Arte-terapia, cura energética, hipnose, eft, reprogramação mental, liberação somática, akashic records, cura da criança interior, constelação sistêmica, regressão, magia, oração - o que eu encontrasse que pudesse auxiliar na cura emocional, mental e espiritual do meu pai (já que para a cura física ele escolheu a medicina tradicional) eu estudava e aplicava, no quarto cinza do hospital em São Paulo que eu tentava colorir com música e arte.
Foi nesse momento que me fiz perguntas importantes sobre o que eu realmente desejava viver - já que agora eu entendia que a vida é breve e nunca sabemos o que pode acontecer.
Mudei de direção. Mudei de percepção. Decidi viver os sonhos genuínos do meu coração.
Até então eu era professora acadêmica de práticas sociais, educadora de inteligência emocional para crianças e consultora de criatividade e inovação para organizações. Trabalhei em NY de segunda a sexta, das 9h as 17h, para 3 instituições. Eu não era infeliz. Mas também não me sentia realizada. Parecia que faltava alguma coisa muito essencial na minha vida e eu não sabia o que era.
Hoje eu entendo claramente que o que faltava era a expressão da minha criatividade em alinhamento com o meu propósito e a minha natureza.
Em 2019 escrevi um e-book sobre isso, que chamei de: O Potencial Original.
Quando usamos a nossa energia para fins que não estão alinhados com os nossos dons e com a forma que queremos viver, bloqueamos o nosso fluxo criativo essencial e podemos até adoecer.
Lembro de estudar muito sobre isso nessa época que eu levava práticas de arte-terapia para o meu pai. Um dos livros que eu li e mudou minha vida foi Creative Healing.
Foi com ele que eu conheci as práticas de escrita criativa para auto-cura que pratico até hoje.
Em uma das práticas que fizemos juntos, meu pai escreveu que se ele tivesse a oportunidade de fazer tudo diferente ele iria viajar com a minha mãe (eles foram casados por 40 anos), mas sem pressa. Ia caminhar mais devagar. Contemplar mais a natureza. Trabalhar menos. Priorizar suas vontades (ele colocava as vontades de todos antes da dele, uma das características de pessoas que desenvolvem leucemia) e ia fazer só os projetos que ele realmente queria fazer.
Senti que a vida estava me dando uma oportunidade de seguir um novo caminho também. E me perguntei: o que eu realmente tenho vontade de criar na minha vida?
Respondi algo assim:
Ensinar o que eu aprendo sobre criação para mulheres, equanto viajo. Ser artista, trabalhar com música e criar um evento onde pessoas podem se conectar com sua criança interior e se divertir de forma saudável, sem intoxicar o corpo e sem intoxicar o planeta.
Parecia algo inatingível.
Mas assim foi.
Meu pai se curou.
Criei um portal de conteúdo sobre propósito de vida e mentoria criativa online que chamei de Isis Insights. Criei a festa Eleva. Trouxe artistas que eu amava para o Brasil. Trabalhei enquanto viajava. Virei DJ e realizei o sonho de tocar em alguns dos meus festivais favoritos.
Agradeci ao Universo (na época eu não falava Deus), por tanto.
E no meio de tanto, recebi a segunda ligação mais triste da minha vida. Lembro que nesse dia ele me ligou chorando. Foi a primeira vez que eu ouvi ele chorar. Avisando que a doença voltou. Senti que aquele era o início de uma despedida.
Foram mais alguns meses até o dia que eu estava com ele na UTI. Nesse dia eu senti de ir mais cedo pro hospital. Eles não queriam deixar eu entrar na sala, por novas regras do Covid. Esperneei. Disse que eu não ia sair dali até ver o meu pai. Por motivos de milagres divinos, naquele dia o médico de plantão era espírita (eu não gostava do outro médico que normalmente estava ali). Ele chegou na sala de espera e disse para mim: vamos deixar você entrar. O seu pai só estava esperando você chegar para poder ir.
Fui até a sua cama sentindo uma sensação tristeza, coragem, beleza e clareza que eu não sei como explicar. Parecia que aquele momento já tinha hora marcada.
Comecei a orar e recebi uma canção que até hoje ecoa no meu coração.
Voa passarinho já é hora de voar
A luz é seu caminho e ela vai te libertar
Da vida nada se leva solta tudo e vai voar
Sai da Terra de mansinho é hora de desapegar
Dos seus ensinamentos vamos sempre nos lembrar
O seu ser será honrado vamos sempre te amar
Sua alma é eterna e os anjos vão te guiar
Na estrela mais brilhante é onde você vai chegar.
Cantei chorando, com ele nos meus braços.
Naquele dia, ele fez a passagem.
Pausa, Pula. 3 anos depois.
Terça-feira. 15h da tarde.
Chove lá fora. Mas o sol aparece por entre as nuvens.
Estou em Alto Paraíso com meu irmão.
Esse era o maior desejo do meu pai. Ele deixou escrito no seu caderno.
Desejo que a Carol e o Ricardo se tornem amigos.
Nós somos amigos agora, Pai. Descobri que o Ricardo é meu melhor amigo! As vezes a gente ainda discute, mas resolvemos muito rápido. Você ia ficar feliz de ver a gente viajando juntos, Pensei.
Hoje foi difícil escrever. Não vou conseguir enviar a carta na hora marcada.
Acendi a vela e o insenso. Fechei os olhos. Coloquei uma mão no ventre e outra no coração. Não consegui fazer nenhuma oração. Só consegui chorar.
Entre soluços e suspiros, deixei as palavras que recebi fluirem pelos meus dedos:
Você é e sempre foi muito amada, minha filha. Nada que você faça ou deixe de fazer pode mudar esse fato. Nada que você faça ou deixe de fazer pode mudar o que já está para acontecer. Tudo está em divina e perfeita ordem. Não precisa se preocupar. A data de chegada e de saída na Terra já tem hora marcada. E não importa se você tem mais um ano de vida ou mais 60 - tudo passa muito rápido, então aproveite cada segundo. Há espaço para o seu livre arbítrio e para co-criação, mas os maiores acontecimentos, sonhos e lições que você veio aqui experienciar já tem data e hora marcada. Principalmente os desejos mais profundos do seu coração. Você só está aqui vendo o filme de como tudo aconteceu. Apenas siga fazendo o seu melhor, com o nível de consciência que você tem agora. Praticando dizer sim para aquilo que te eleva e não para aquilo que tira a sua energia. Sejam lugares, pessoas ou oportunidades. O seu coração sempre sabe.
Ps: Eu estou muito bem. E vivo sempre no seu coração, também.
Respirei aliviada. Como é boa essa sensação… de aceitação.
"O que não aconteceu nunca esteve para acontecer. E o que aconteceu, nunca esteve para não acontecer.” - Teixeira de Pascoaes
Com amor,
Carol Cor
Pergunta: como você viveria se você acreditasse que… certas coisas que vivemos aqui já tem hora marcada para acontecer? Incluindo os desafios e os desejos mais profundos do seu ser?
Eu e meu irmão no Vale da Lua (queria que a minha versão de 2017 visse essa foto. Sei que meu pai está vendo e sorrindo de algum lugar).
Alto Paraíso: o lugar na Terra que me mais me ensinou sobre o que não é e o que é o amor.




Que lindo Fe. Gratidão por compartilhar sua jornada 🤍 que Deus te abençoe ✨
Oiii Carol, eu li todas as suas newsletters.... uauuuu me emocionei. Está lindo de ver a sua jornada no ato da fé e aceitação. Pode acreditar que suas palavras vieram de encontro... eu acredito muito Deus! Eu vivo a espiritualidade à muitos anos, e é mágico ver como tudo acontece em perfeita harmonia🙏🏻. Deus tem tanto carinho com a gente❣️ que as coisas vão sendo reveladas de acordo com que estamos preparadas. 🥹 Precisamos fazer a nossa parte e purificar a nossa história, as nossas emoções e as nossas crenças. O perdão que nos leva ao Amor.... e o Amor que nos leva até Deus!
Perdi o meu pai e não tive a oportunidade de me despedir dele pessoalmente, mais consegui me despedir dele, através do mundo espiritual com a permissão de Deus e guiança dos Anjos ... a minha missão na época que ele estava vivo, era permanecer num lugar que estava, pois conseguia trabalhar e pagar o tratamento para ajudar na dignidade. E hoje após 1 ano e meio que ele se foi deste mundo... hoje estou cuidando de idosos e paliativos... uma oportunidade de estar sendo curada e transformada por eles, ajudar cada um para seguir com o caminho da luz e lembro do meu pai.... como uma oportunidade que Deus me deu e me preparou, para me despedir e aceitar que a morte é vida. Que Deus é o caminho eterno para Cura, Amor e Prosperidade. 💛 sinta meu forte abraço. Deus te abençoe 🙏🏻