Com paciência.
Sobre um dos maiores desafios - de uma parte de mim.
Hoje eu não quero expressar o que eu sinto. Hoje eu só quero canalizar a minha consciência amorosa. Pode?
Eu não aguento mais expressar o que essa parte de mim que estupidamente resiste ao que está acontecendo sente. Ela é tão.. inconsciente (escrevi, sentindo a parte de mim crítica, julgadora e impaciente).
Faltam 5 dias para minha menstruação chegar, eu sei. Nos últimos 6 meses eu tive sintomas intensos de TPM, eu sei. A minha intolerância com minhas imperfeições é ampliada em 10x, eu também sei. Mas eu não quero escrever sobre isso. Apesar de já estar escrevendo sobre isso.
Vamos ao que interessa. Ninguém quer saber dos seus processos hoje. O mundo está acabando e você não está fazendo nada. SUA INGRATA.
Uau…observei o diálogo que acontecia na minha mente, tentando não me identificar.
Senti a minha energia feminina triste e incompreendida, com suas emoções sendo invalidadas e julgadas como erradas - simultaneamente que a minha crítica interna (aka carrasca) me dava uma lição de moral com seu chicote.
Ela continuou:
Você tem tudo, Carol. Você é inteligente, bonita, criativa, tem família, amigos, recursos, você tem um mestrado, você teve e tem acesso aos melhores terapeutas, mentores, livros, cursos, informações... Você reconhece os seus privilégios e prometeu que ia ajudar os outros com o seu conhecimento. Mas você está querendo se priorizar agora?
Eu espero que você esteja se sentindo culpada. Por que você ainda não se sente inspirada para voltar a trabalhar, ensinar, produzir eventos e criar conteúdo? Como que depois de um mês descansando você ainda não se sente 100% recuperada e energizada? O que é que você está fazendo de errado? O que você tem de errado?
Da cadeira da observadora percebi como essa voz pode ser abusiva e manipuladora, me colocando pra cima - para depois me colocar pra baixo.
Lembrei do conto do Barba azul, de Mulheres Que Correm Com Os Lobos. O conto de Clarice Estés nos alerta sobre como - por falta de conexão com os nossos instintos femininos selvagens - nos submetemos a relacionamentos que abusam da nossa feminilidade - porque existe uma parte de nós que faz o mesmo.
Logo veio a parte mim que se sente insegura (se você percebe esses papéis dentro ou fora de você, pesquise sobre o triângulo do drama, de Stephen Karpman).
EU NÃO SEI. Desculpa. Eu fracassei. Eu não sei o que tem de errado comigo. Eu queria estar me sentindo bem e inspirada pra voltar a produzir como antes. Mas eu ainda não me sinto assim. E eu não parei de trabalhar completamente. Fui chamada pra tocar em dois eventos esse mês, estou estudando muito e focando na minha recuperação. Isso não é bom o suficiente?
Suspirei. Nunca é bom o suficiente para a parte que não me deixa parar.
Abri a playlist de escrita criativa. Pedi pra Deus escolher uma música. Veio essa.
Esquentei o chá, acendi a vela e o incenso. Olhei a jaspe vermelha no meu altar e senti de colocar ela no meu colo pra escrever. Ontem eu comprei rosas. Elas me lembram de acessar a consciência amorosa com mais frequência.
É realmente mágico perceber como a minha energia muda imediatamente quando eu abro esse espaço ritualístico de escrita criativa, com elementos tão simples. Chá, vela, incenso, elementos da natureza como flores ou cristais, intenção e oração (aaaah lá vem a jovem mística - a julgadora se pronunciou novamente).
Dessa vez, eu ri.
Percebi que nesse mês eu parei de trabalhar lá fora, mas trabalhei muito aqui dentro. Comecei a fazer duas mentorias em grupo sobre energia feminina e contratei uma terapeuta e uma mentora individual pra fazer um trabalho profundo de hipnose, liberação somática e trabalho de partes (internal family systems).
Essas são algumas das ferramentas terapeuticas que mais transformaram minha vida, que eu estudo, aplico em mim mesma e utilizo nas minhas mentorias. Mas fazia muito tempo que eu não contratava uma terapeuta para me conduzir nesses processos. De fato, faz toda a diferença receber ajuda e parar de achar que eu consigo fazer tudo sozinha.
O trabalho de partes tem sido revelador. Compreender que não, nós não somos uma só. E não somos bipolares ou esquisofrênicas quando temos conflitos internos. Todos nós tivemos emoções e desejos reprimidos e invalidados. A nossa consciência foi fragmentada em diversas partes. Somos múltiplas, de fato.
Uma parte da nossa psiquê reflete as necessidades e angústias da nossa criança interior. Assim como outra parte reflete as imposições de uma crítica-julgadora que quer nos proteger do fracasso. Dentro de nós, temos partes que torcem por nós e outras que nos auto-sabotam. Partes que tem coragem e partes que tem medo.
É libertador compreender que não precisamos suprimir essas partes. Apenas precisamos ativar a parte que integra, aceita e entra em um acordo amoroso com todas elas. Alguns chamam essa parte de Eu Superior. Eu não gosto desse nome.
Superioridade de uma parte imediatamente implica na inferioridade de outra parte.
Eu prefiro chamar essa parte de alma. Ou de consciência amorosa.
Falando nela, comecei esse texto expressando que eu só queria ouvir ela falar. E veja só. A verdade é que muitas partes queriam escrever aqui hoje.
Fechei os olhos. Coloquei uma mão no ventre e outra no coração. Fiz minha oração simplificada: consciência amorosa que habita o meu corpo e o meu ser… se comunique comigo para eu poder perceber o que hoje eu preciso compreender.
Segurei a jaspe vermelha, respirei fundo e me entreguei ao mantra sânscrito da música que em português significa “ó energia do senhor, por favor, envolva-me em seu serviço”. Aos poucos fui sentindo uma presença amorosa invadindo meu coração, descendo para o meu ventre até os meus pés, no chão. Essa consciência tem raízes na minha verdade.
- Olá, carolzinha, meu amor. Paciência, minha flor. Paciência consigo mesma, por favor.
Você passou a sua vida inteira em um ritmo acelerado que é completamente desconectado da sua natureza e dos seus ciclos. Você achava mesmo que em um mês você ia resolver tudo e voltar como se nada tivesse acontecido?
Sim. Era isso que eu desejava e esperava. E para, como assim, a vida inteira? Eu achei que tinha sido só no último ano que eu peguei pesado.
- Não, minha amada. Por quase toda a sua vida, você fez parte de um sistema que te desconectou da sua natureza te influenciando a ir mais rápido do que o seu normal. A sua sorte é que você estudou em uma escola construtivista até os 12 anos. Muitos passam sua infância em salas de aula que mais parecem jaulas. Mas com 12 anos a sua natureza ainda era brincar e explorar. E você passou metade dos seus dias e metade da sua adolescência sentada, olhando para um professor escrevendo palavras em um quadro para você memorizar - para tirar uma nota alta em uma prova e ser boa o suficiente para passar de ano e receber aprovação dos seus pais.
Você tomou anticoncepcional por 10 anos. Estudou em uma faculdade de arquitetura por quatro anos e ficava acordada toda a madrugada montando maquetes e finalizando projetos, como se isso fosse normal. Você foi dormir depois da 1h da manhã no mínimo 3x por semana, por mais de 15 anos, desrregularizando todo o seu ciclo circadiano. Na sua vida adulta você estudou e trabalhou por horas e horas em escritórios e salas de aula em uma selva de concreto (New York, New York) sem colocar os pés na terra, sendo obrigada a trabalhar nas fases do seu ciclo que te pediam para pausar. E quando você se tornou autonoma, você se cobrou ainda mais e acelerou ainda mais para se sentir boa o suficiente. E assim, se esqueceu do seu ritmo.
Quanto mais e mais rápido, melhor, disseram pra vocês. Grande ilusão. E agora vocês passam horas olhando para uma tela de celular, consumindo e produzindo conteúdo desenfreadamente. Não tem sistema nervoso que aguente.
Sem falar da alimentação. Pela maior parte da sua vida você comeu com frequência glúten, açúcar, cafeína, lactose e outros alimentos que inflamam e intoxicam o seu organismo. Eu sei que você já fez grandes transformações desde 2017 e que você já come relativamente saudável, mas o seu corpo está te dando sinais que mudanças mais profundas precisam ser feitas.
A sua natureza é acordar cedo e dormir cedo, acompanhando a luz do sol. Viver pertinho da natureza, com os pés no chão. Comer alimentos orgânicos que nascem da Terra e beber água pura e cristalina. Trabalhar no máximo 4h por dia, com aquilo que faz vibrar o seu coração, colaborando com a vida de outros seres. Vivendo em comunidade e compartilhando a vida com relações saudáveis.
Ahahaha. Isso é um tanto quanto utópico e irreal para 95% da população mundial.
Pois é.
Você acha que é justo com você mesma, se cobrar para resolver um problema sistêmico que foi imposto desde a sua existência em apenas um mês?
Hm… Não. Não é justo.
Então seja justa. E agora, ser justa é ser paciente.
Fale para a parte de você que te julga e te pressiona a ir mais rápido (parte essa que se acha consciente e cheia de razão mas foi totalmente programada) que você vai voltar, mas não agora. E pode dizer pra ela que ela não precisa ter medo do fracasso. O maior fracasso é perder a sua saúde e deixar que essa vida passe rapidamente, sem que você aproveite. Esse é o maior arrependimento das pessoas antes da morte.
Você está cuidando do seu bem mais precioso agora: a sua energia. Eu estou orgulhosa de você, Carol. Quando essa fase passar (spolier: ela vai passar), você vai se agradecer por estar se dando tempo para aprender a desacelerar… a encontrar o seu ritmo que é bem mais devagar. Com paciência consigo mesma e seu processo.
Eu te amo. E eu te prometo: você está no caminho certo.
“Fé no processo” Um dos meus oráculos favoritos de Alana Fairchild: Sacred Rebels.
Pergunta chave: O que a sua consciência amorosa tem pra te dizer sobre as áreas da sua vida onde você precisa ser mais paciente consigo mesma?
Com amor,
Carol Cor




Eu chorei na sua carta inteira 🥹 me identifiquei com a fase que estou passando. Bora seguir com paciência e vigília em orações 🙏♥️ fazer a pergunta certa para a alma e o Espírito Santo de Deus. Obrigada Carol por compartilhar… Deus te abençoe sempre
Carol!!! Tem sido incrível poder ler a sua escrita tão profunda, sensível e amorosa!
Precisava lembrar de ter fé no meu processo!!!
Gratidão mana, gratidão! ✨