Um amor de carnaval
E o prazer de quebrar as minhas próprias regras (só de vez em quando)
E quando me olhei no espelho, eu não me reconhecia mais.
Cadê aquela mulher apaixonada pela existência - que se permite explorar e experimentar a vida sem medo?
Nos últimos tempos, aprendi e incorporei tantas regras - ditadas por outras pessoas - sobre o que é ser uma mulher de alto valor, uma mulher bem sucedida, a tal da mulher divina… que eu esqueci de ser quem eu sou.
Eu sei, eu sei. Eu oscilo muito nessa lei hermética do ritmo. Uma hora sagrada, na outra profana. Um dia quero ser Deusa perfeita, no outro só quero errar e ser humana.
Ainda estou aprendendo a integrar as duas em uma. Ainda estou aprendendo a encontrar o tal do equilíbrio.
Mas e se o equilíbrio não é ficar no meio?
E se o equilíbrio é, na verdade, aprender a surfar nas extremidades da onda?
Pasmem - já faziam 10 anos que eu não vivia o carnaval de verdade.
Desde criança eu amava essa festividade. Criava as mais variadas fantasias. Com 9 anos, ganhei prêmio de garota sideral no carnaval do LIC (dava tudo pra encontrar essa foto). Dos 15 aos 17, eu era a designer de fantasias do nosso grupo de amigas. Já fomos policiais, paquitas e pimps. Como eu ria e me divertia.
A última vez que eu vivi o carnaval de verdade foi em 2015 no Rio de Janeiro.
Bons tempos.
Depois disso eu me mudei pra Nova Iorque, parei de beber e desde então eu escolhi ir para retiros ao invés de sambar na avenida. De vez em quando eu dançava em algum bloquinho de leve, quando eu estava no Brasil. Mas a minha percepção era: Ai, carnaval é muito caótico. Eu não quero ficar no meio de gente bêbada. Prefiro ir pra natureza (blá-blá-blá).
Pois bem. Nesse ano a minha sagrada-profana gritou: CAROLINA, vai pro carnaval do Rio. Quem, eu? Imagina. Ignorei o primeiro chamado. Até que duas amigas minhas em momentos diferentes (eu escuto os sinais) reforçaram: vem pro Rio, Carol.
Terminei os trabalhos no retiro do Dance Beyond (os precursores do movimento sem álcool de Nova Iorque), dei aula e toquei no evento da Eleva e do Ecstatic Dance em Floripa (evento sem álcool), toquei no evento do MOSE em SP (também sem álcool), arrumei as malas e vim pra casa da Yohana, uma amiga querida de adolescência, em Copacabana.
Vou resumir a ópera: Eu me permiti.
Detalhe: Eu estava há um ano e meio em celibato intencional. Sem sexo, sem bebida, sem drogas, sem açúcar, sem glúten, sem lactose (risos).
Por que? Talvez porque eu acreditei que se eu me purificasse o suficiente, se eu parasse de me distrair, se eu esperasse de verdade, eu ia elevar a minha energia e ser digna de manifestar os meus desejos - e quem sabe, até me encontrar com o amor verdadeiro.
Nada disso é mentira. Funcionou, por um tempo.
Ano passado vivi um dos anos mais mágicos e um dos amores mais alinhados, bonitos e corretos que eu já experienciei.
Mas o tempo foi passando e eu fui me questionando…
Será que a vida é sobre isso? Esperar e se lapidar para algo desejado acontecer?
Ou será que a vida é pra viver - e a medida que vivemos, transformamos o nosso ser?
O meu grito de chega chegou quando eu percebi que eu não era mais eu.
Eu não estava exigente. Eu estava chata.
Eu sentia a minha energia erótica e profana gritando: por favor sua tirana, me liberte.
Eu mesma me coloquei em uma gaiola e me isolei em um castelo com grandes muralhas. As muralhas eram o meu próprio medo de me machucar, de fazer algo errado que poderia me atrapalhar… de não ser santa.
E aí chegou fevereiro. E o Carnaval do Rio de Janeiro me sequestrou, por inteiro.
Pesquisadora da vida que sou, pensei: bom, vamos ver tudo isso como um experimento criativo social.
Inverti todas as minhas regras, bebi (não muito, mas o suficiente pra sentir os efeitos no dia seguinte e lembrar de porque eu não bebo), me fantasiei de sereia sensual e de afrodite arretada, dancei com estranhos, beijei na boca e até me apaixonei por um dia. Tive ressaca energética? Com toda certeza. Valeu a pena?
Olha… considerando que é só uma vez por ano: valeu.
Valeu porque eu lembrei que a minha alma é expansiva. E que eu não preciso ser bela adormecida esperando pelo príncipe encantado, ou Rapunzel esperando na torre de marfim, para que aquilo que eu desejo chegue até mim.
Pelo contrário: quanto mais eu me permito viver o meu desejo, viver o meu presente, viver o meu prazer, viver a vontade escandalosa que eu tenho de me expressar, de criar, de compartilhar, de amar e de SER…
Com coragem - sem medo de perder.
Eu me abro para a vida receber.
Detalhe: a sagrada-profana não é promíscua. Sair do celibato não significa que agora posso me relacionar sexualmente com o primeiro amor que aparecer pela frente.
Valores, sonhos, intenções, estilo de vida - e o tempo, além da química - ainda são os meus filtros para poder dizer sim.
Permita-se, mas vá com calma. Tem taaaanto pra se explorar, antes de chegar na hora H. Ainda mais que para nós mulheres, quando nos relacionamos sexualmente antes de desenvolver uma real conexão emocional, mental e ter intimidade real - nos perdemos no coquetel de hormônios e temos dificuldade de ver a verdade.
Mas a chave que virou em mim é: pare de esperar para abrir o seu coração para a vida amanhã e viva o que se apresenta no seu presente - profundamente e deliciosamente - agora.
Li em algum lugar, pelo instagram (não eram bem essas palavras, mas foi algo assim): nos fizeram acreditar que a mulher santa não pode ser livre - e que a mulher livre não pode ser santa. Mas aqui estamos nós, com os olhos brilhando, reescrevendo as escrituras sagradas (me corrijam se eu estiver errada).
E aí eu entendi, o papel do carnaval - nesse ano - na minha vida.
Foi isso que eu descobri:
O Carnaval vem de rituais ancestrais, como as Dionisíacas (Grécia, 1500 a.C.), as Saturnálias (Roma, 500 a.C.) e as Lupercálias (Roma, 300 a.C.). Eram celebrações de fertilidade, êxtase e inversão da ordem, onde tudo era permitido e o mundo virava de cabeça pra baixo… Durante essas festividades, as normas sociais eram temporariamente suspensas, servindo como uma válvula de escape para as tensões sociais.
Após esse período de permissividade, a ordem social era restabelecida, reforçada pela catarse coletiva vivenciada durante as festividades.
Quando a Igreja chegou, tentou controlar os festivais pagãos, chamando essa época de Carnavale—“adeus à carne”, um último suspiro antes da Quaresma. Só que o espírito do Carnaval é indomável. Porque a alma sabe: sem um pouco de loucura, a sanidade sufoca.
INSIGHTS DE CARNAVAL:
As vezes encontramos a nossa sanidade quando nos permitimos enlouquecer.
Na natureza, depois da tempestade vem a calmaria. No corpo, depois do choro vem o alívio. No Carnaval, depois do excesso vem a clareza. O Caos e a Ordem coexistem —um faz o outro existir.
O Carnaval Nos Devolve a Coragem
Ser criativo é se permitir ser ridículo, errar, testar, explorar. No Carnaval, damos férias para a vergonha. E talvez essa seja a melhor prática: soltar a criatividade sem filtro, sem desculpa, sem medo do que vão pensar. Que alívio, essa permissão para ser o que somos.
Cada Fantasia é um eu possível
E se aquele personagem que você encarna na avenida for um pedaço seu que merece mais espaço no resto do ano? E se o Carnaval for um ensaio para vivermos com mais verdade e criatividade todos os dias?
Depois do caos, o recomeço
O Carnaval bagunça, mas é dessa bagunça que surge a arte, a cura, a vida pulsante. Talvez a gente precise, de tempos em tempos, se perder um pouco para se encontrar novamente, de uma forma mais autêntica e diferente.
Atividade carnavalesca de escrita criativa:
O que o Carnaval te permitiu ser que você não se deixa ser no resto do ano? E se o exagero fosse só um treino para libertar a sua verdadeira expressão? E se você não precisasse esperar para fevereiro de 2026 para ser a sua versão mais ousada, criativa, permissiva e apaixonada pela vida? Quem você seria?
Talvez… só talvez…. temos mais chances de apreciar a vida por inteiro - e até de encontrar o amor verdadeiro - não quando estamos esperando pela felicidade, na torre de marfim. Mas quando estamos rindo e celebrando despreocupadas pelas avenidas. Aí sim… talvez o amor e o néctar da vida te encontrem na próxima esquina.
Com amor,
Carol Cor
Fantasiada de apaixonada (pela vida).
Sem palavras ❤️ apenas obrigada! 🦋
Tão real isso, Carol! Sinto que quanto mais vivemos nossa verdade, seja ela o caos aparente que for, mais atraímos de verdade aquilo que é pra nós, que pode ser inclusive um amor que também vibre nessa mesma complexidade de frequências!
(Cheguei agora no Substack, muito influenciada por você! Aliás preciso marcar minha mentoria, tô procrastinando - preciso de um puxão de orelha, hahaha) beijo! 🫶